“Quem, por causa do medo, se encolhe e rasteja,
vive a morte na própria vida. Quem, a despeito do medo, toma o risco e voa,
triunfa sobre a morte. Morrerá quando a morte vier. Mas só quando ela vier”
(Rubem Alves)
(Rubem Alves)
Trás
a morte de Rubem Alves no último 19 de julho, dedicamos o “Café com LETRAS”
deste mês a este ilustre personagem brasileiro que deixou uma grande
contribuição à humanidade.
POLIFACÉTICO E POETA
Como um intelectual multifacético, Rubem Alves
era quase um “homem renascentista” porém já na era do pós-modernismo. Pedagogo,
poeta, filósofo, cronista, pastor presbiteriano, contador de histórias,
escritor de contos infantis, ensaísta, teólogo, acadêmico, conferencista e
psicoanalista, Alves foi um dos nossos maiores pensadores contemporâneos, um
dos escritores brasileiros mais lidos. Com tantas facetas, era com a de poeta
que se revelava sensível à poesia e à beleza da vida e do mundo inspirando
lirismo e sabedoria por gerações. Em sua faceta como teólogo foi um dos
precursores da “Teologia da libertação”, sofrendo também perseguições da
ditadura militar, acusado de subversão em 1968. Foi quando decidiu voltar aos
EUA (onde já tinha cursado um mestrado em teologia), agora para cursar um
doutorado em “Filosofia” em Princeton.
Foi
autor de 160 obras entre ficção e não ficção, traduzidas a vários idiomas e
publicadas em 12 países. De espírito crítico, tinha a capacidade de se conectar
com o público o qual lhe era fiel, sempre ávido por suas ideias. Sensível, sua
mensagem sempre se relacionava com o emocional do ser humano.
Entre
seus livros mais destacados temos: “Entre a ciência e a sapiência” (2010), “O
que é a religião?”; “O regresso do pássaro encantado” – literatura infantil;
“Variações sobre a vida e a morte”, de cunho teológico; “Filosofia da ciência”-
relaciona temas filosóficos e de conhecimento científico. Em 2009, foi
galardoado com o 2ª lugar do prêmio Jabuti pelo livro “Ostra feliz não faz
pérola”, com o qual compartilha sua experiência revelando uma de suas mais
brilhantes facetas: a de educador. Deixou um grande legado para nosso ensino – o
qual criticava veemente- sendo referência obrigatória em cursos de pedagogia e
de formação de professores, além de, logicamente, diversas outras áreas. Defendia
que educar não é ensinar matemática, física, química, geografia, mas sim ‘ensinar
a ver’”.
A
seguir, Alves nos brinda duas reflexões sobre sua faceta filosófica e o mundo.
Aproveitamos o tema de sua morte e perguntamos: O que é a vida e como ela se compõe?
Alves nos responda poeticamente, com suas leves e deliciosas palavras, porém
repletas de significados.
As três fases da vida de Rubem Alves
Minha vida se divide
em três fases.
Na primeira, meu
mundo era do tamanho do universo
E era habitado por
deuses, verdadeiros e absolutos.
Na segunda fase meu
mundo encolheu,
Ficou mais modesto e
passou a ser habitado
Por heróis
revolucionários que portavam armas
E cantavam canções de
transformar o mundo.
Na terceira fase,
mortos os deuses,
Mortos os heróis,
mortas as verdades e os absolutos,
Meu mundo se encolheu
ainda mais
E chegou não à sua
verdade final mas a sua beleza final:
Ficou belo e efêmero
como uma jabuticabeira florida.
A vida, uma sonata?
Compreendi, então,
Que a vida não é uma
sonata que,
Para realizar a sua
beleza,
Tem de ser tocada até
o fim.
Dei-me conta, ao contrário,
De que a vida é um
álbum de mini-sonatas.
Cada momento de
beleza vivido e amado,
Por efêmero que seja,
É uma experiência
completa
Que está destinada à
eternidade.
Um único momento de
beleza e amor
Justifica a vida inteira.
Algumas frases de Rubem Alves:
"Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que
a memória ama fica eterno."
“Minha filosofia
pode ser resumida em duas frases latinas: “Tempus Fugit”: o tempo foge, passa,
tudo é espuma… E “Carpe Diem”: colha cada dia como um fruto saboroso que cresce
na parede do abismo. Colha hoje porque amanhã estará podre.”
"Não haverá
borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."
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