Esporte, sentimentos e artes - uma harmonização possível?
Em época de Copa do Mundo, quando o assunto gira em torno do esporte mais apreciado entre os brasileiros, muitas manifestações artísticas ao redor deste tema surgem entre mais populares e mais eruditas: desde pinturas nos muros e nas ruas, até livros infantis e de cunho socio-ideológicos. Entre a pintura, a literatura e a música, talvez a música ocupe o "podium" com a medalha de ouro sendo a arte mais popular e acessível a todos os brasileiros, sejam letrados ou não letrados e de todas as classes sociais. Assim, a música vem se destacando sempre como a protagonista em qualquer evento de nível mundial: sempre haverá uma música-tema com uma letra popular na voz de algum
cantor famoso do momento. Todavia, a literatura também aí se faz presente: nas
letras!
Falando especificamente em
Literatura, emoção, sentimentos e poesia são elementos indissociáveis. Em
tempos de Mundial de Futebol, as emoções dos aficionados, sejam simples torcedores
ou fervorosos fanáticos, estão sempre à flor da pele. O medo, a ansiedade e a
alegria são sentimentos que disputam a bola da vez. Por isso que do casamento
entre futebol e sentimentos nascem originais composições poéticas assim como
também belas letras e músicas...
Atualmente, pode-se encontrar
leituras sob os mais diversos gêneros desde literatura de cordel, poemas
populares de autores anônimos até famosos letristas como Milton Nascimento e
Moraes Moreira, que têm como paixão o esporte dos chutes e gols. Do mesmo modo,
encontramos grandes poetas de nossa literatura que também fazem jus a seu ofício
materializando em versos muitos destes sentimentos através de suas percepções
mais sutis. Entre os mais famosos contamos com Carlos Drummond de Andrade,
Ferreira Gular, Aníbal Beça, Glauco Mattoso, Clarice Lispector, João Cabral de
Melo Neto, para citar alguns. Vinícius de Moraes, fazendo uma homenagem ao
ídolo Garrincha, destaca-se com seu belíssimo soneto: "Anjo das pernas
tortas".
ENTRE VERSOS E PROSA
Vasculhando mais a literatura
que versa sobre o tema, encontramos sugestões de livros dos mais diversos
gêneros, entre literários, sociológicos, biográficos, infanto-juvenis, etc. -
uma verdadeira seleção de destaque. Citamos alguns:
1- "Quando é dia de Futebol" - Carlos
Drummond de Andrade - Reunião de crônicas, poemas e ensaios do autor sobre o
esporte.
2- "Donos da bola" (Ed. Língua
Geral) - Coletânea de poemas de diversos autores como Clarice Lispector, Chico
Buarque, Nelson Motta, Jorge Ben e Vinícius de Moraes. Entre os gêneros estão:
crônicas, contos letras e poesia.
3- "Charles Miller- O pai do futebol brasileiro" - Espécie de biografia sobre a vida do homem que trouxe o futebol para o Brasil- uma narrativa com fotos, documentários inéditos, relatos da história deste pioneiro no gênero.
4- "As melhores seleções brasileiras de todos os tempos" (Ed. Contexto) - As seis equipes selecionadas pelo
autor trazem perfis de todos, estratégias, táticas e curiosidades.
5- "Veneno Remédio" (Cia de
Letras) de José Miguel Wesnik - Para o autor o futebol é o "nó cego em que
a cultura e a sociedade se expõem no seu ponto ao mesmo tempo mais visível e
invisível". É um livro mais denso cuja abordagem é bastante abrangente,
desde aspectos sócio-históricos econômicos até aspectos ideológicos, políticos
e culturais.
6- "O cachorro que jogava na ponta
esquerda" (Ed. Rocco) de Luis Fernando Veríssimo - literatura infanto-juvenil
e, do mesmo gênero: "Júnior -minha
paixão pelo futebol" - livro autobiográfico que conta sua trajetória
da infância ao futebol profissional.
7- "Maiores Clubes" de Ziraldo
(Editora Globo)- Traz em versão quadrinhos histórias e curiosidades de quatro
dos principais times brasileiros como Palmeiras, Corinthians, Vasco e Flamengo.
Para nossa degustação literária
selecionamos dois sugestivos poemas para a data em questão, que versam sobre o
tema futebolístico. Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto são
os que jogarão com a palavra no campo das Letras. Como são autores modernistas
é fácil sua interpretação à primeira vista, com versos brancos e livres.
FUTEBOL
(Carlos Drummond
de Andrade)
Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas-de-pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua o jogador, gravado no ar
- afinal, o corpo triunfante da triste lei da
gravidade.
In Poesia errante
FUTEBOL
BRASILEIRO EVOCADO DA EUROPA
(João Cabral de Melo Neto)
A bola não é a inimiga
como o touro, numa corrida;
e, embora seja um utensílio
caseiro e que se usa sem risco,
não é o utensílio impessoal,
sempre manso, de gesto usual:
é um utensílio semivivo,
de reações próprias como bicho
e que , como bicho, é mister
(mais que bicho, como mulher)
usar com malícia e atenção
dando aos pés astúcias de mão.
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